domingo, 4 de setembro de 2011

Relato brega e dramatico, e real, sobre sexta-feira


A água passa pelo filtro, deixando um café cremoso, quase que só o pó.  O sol batia, dava vontade comer aquele pó- creme de colher.
***
- O que aconteceu com a gente?
Ela me perguntou, as duas mais uma vez afundadas na embriagues e na música, no som alto, naquela sala. A mesma sala onde tudo começou, nos reencontrávamos e, depois de beber, quando tudo ficava absolutamente claro e cruel, indagávamo-nos mutuamente. Tudo entre nós era um eterno drama, às vezes vivido em uma semi-telepatia, no nosso entendimento estranho e na sensibilidade a flor da pele.
Meu primeiro impulso foi abraça-la, sentindo de novo aquela dor no fundo, anestesiada pelas mil latas de cerveja. Mais uma vez, nos divertíamos muito. Tocava a música, se fosse uma Tropicália, era uma espécie de dança contemporânea, braços e pernas em um pseudo-fluidez corporal. Se fosse rock, era pra pular abraçado em rodinhas, girando, como se a felicidade residisse nesses flashes de descontrole.
Desisti de tentar responder. Devo ter balbuciado algo depois, eu acho que ainda acredito na reconciliação. O que faça com não doa tanto.
Um pouco depois, no entanto, ela veio novamente deixar claro que tudo que podemos ter é um diálogo superficial. Nada mais. Amizade ficou no passado.
- Ó, você tá me julgando de novo – disse, mas sem me levar muito a sério. Força do hábito.
- Eu? Eu parei de ser sua amiga só pra não te julgar mais, – às vezes esqueço que ela leva tudo muito a sério – de qualquer forma, prefiro assim.
- Como assim?
- É melhor a gente não ser amiga do que aquilo de antes. Nossa amizade brisa, meio mãe, meio namorada, meio irmãs...
Meio irmãs... meio namoradas... meio mãe. Amigas, acima de tudo, inseparáveis, inconsequentes. Procurando e vivendo...
Em quintas-feiras, bebendo até as cinco da manhã, acabando-se toda semana e acordando na sexta-feira na hora do almoço.
Perpassando mil homens, todos meninos. Todos tão passageiros, ficaram lá atrás. E depois, reclamando da nossa insatisfação, desejando que a outra pudesse ser seu homem. Lembro dessa brincadeira, não sei se muda ou falada. Sugeria que ela fosse um homem. Se ela fosse, iríamos namorar. Afinal, ela tinha tudo... menos o sexo.
Depois que tudo foi por agua baixo (lembro exatamente do dia em que tudo ficou claro pra mim, rodando de carro pela cidade em meio a uma guerra de palavras. “A energia se rompeu para sempre”, “Você não me apoiou quando eu mais precisei” e uma total impotência de fazê-la mudar de ideia, até tudo acabar no estacionamento de um McDonalds), tive uma certa dimensão do que se passou. Nosso um ano de amizade é um colorido com lampejos de cinza. Todo o resto depois é um cinza com lampejos de colorido. Cheiros, cores, músicas. São todos sintomas do brilho que ficou para trás.
O que me deixa mais perplexa é da gente não ter percebido antes que tudo estava fadado ao fim... hoje é nítido.

E bebo cafézinho nas tardes de sol, na solidão do dia a dia. E sou feliz agora, as vezes, mas a tendência é  procurar a todo tempo. Não tenho ideia do que faz ou fez, só sei que não me julga mais. Eu também não julgo. Passou...