sábado, 10 de dezembro de 2011

não se afobe não que nada é pra já....

domingo, 4 de setembro de 2011

Relato brega e dramatico, e real, sobre sexta-feira


A água passa pelo filtro, deixando um café cremoso, quase que só o pó.  O sol batia, dava vontade comer aquele pó- creme de colher.
***
- O que aconteceu com a gente?
Ela me perguntou, as duas mais uma vez afundadas na embriagues e na música, no som alto, naquela sala. A mesma sala onde tudo começou, nos reencontrávamos e, depois de beber, quando tudo ficava absolutamente claro e cruel, indagávamo-nos mutuamente. Tudo entre nós era um eterno drama, às vezes vivido em uma semi-telepatia, no nosso entendimento estranho e na sensibilidade a flor da pele.
Meu primeiro impulso foi abraça-la, sentindo de novo aquela dor no fundo, anestesiada pelas mil latas de cerveja. Mais uma vez, nos divertíamos muito. Tocava a música, se fosse uma Tropicália, era uma espécie de dança contemporânea, braços e pernas em um pseudo-fluidez corporal. Se fosse rock, era pra pular abraçado em rodinhas, girando, como se a felicidade residisse nesses flashes de descontrole.
Desisti de tentar responder. Devo ter balbuciado algo depois, eu acho que ainda acredito na reconciliação. O que faça com não doa tanto.
Um pouco depois, no entanto, ela veio novamente deixar claro que tudo que podemos ter é um diálogo superficial. Nada mais. Amizade ficou no passado.
- Ó, você tá me julgando de novo – disse, mas sem me levar muito a sério. Força do hábito.
- Eu? Eu parei de ser sua amiga só pra não te julgar mais, – às vezes esqueço que ela leva tudo muito a sério – de qualquer forma, prefiro assim.
- Como assim?
- É melhor a gente não ser amiga do que aquilo de antes. Nossa amizade brisa, meio mãe, meio namorada, meio irmãs...
Meio irmãs... meio namoradas... meio mãe. Amigas, acima de tudo, inseparáveis, inconsequentes. Procurando e vivendo...
Em quintas-feiras, bebendo até as cinco da manhã, acabando-se toda semana e acordando na sexta-feira na hora do almoço.
Perpassando mil homens, todos meninos. Todos tão passageiros, ficaram lá atrás. E depois, reclamando da nossa insatisfação, desejando que a outra pudesse ser seu homem. Lembro dessa brincadeira, não sei se muda ou falada. Sugeria que ela fosse um homem. Se ela fosse, iríamos namorar. Afinal, ela tinha tudo... menos o sexo.
Depois que tudo foi por agua baixo (lembro exatamente do dia em que tudo ficou claro pra mim, rodando de carro pela cidade em meio a uma guerra de palavras. “A energia se rompeu para sempre”, “Você não me apoiou quando eu mais precisei” e uma total impotência de fazê-la mudar de ideia, até tudo acabar no estacionamento de um McDonalds), tive uma certa dimensão do que se passou. Nosso um ano de amizade é um colorido com lampejos de cinza. Todo o resto depois é um cinza com lampejos de colorido. Cheiros, cores, músicas. São todos sintomas do brilho que ficou para trás.
O que me deixa mais perplexa é da gente não ter percebido antes que tudo estava fadado ao fim... hoje é nítido.

E bebo cafézinho nas tardes de sol, na solidão do dia a dia. E sou feliz agora, as vezes, mas a tendência é  procurar a todo tempo. Não tenho ideia do que faz ou fez, só sei que não me julga mais. Eu também não julgo. Passou... 







domingo, 14 de agosto de 2011

nega música

uma das músicas mais bonitas

lembro daquele dia de lua cheia, no meio do canavial... vinha um cheiro de açúcar queimado, a lua nascia rasgando no céu azul-escuro

já era tarde, a fogueira, o amor, os amores, todos com olhos lacrimejando da fumaça

não venha querendo você se espantar não não não....
nunca soube qual era aquela música, tocada nos violões e cantadas em vozes em cascata enquanto a vida sorria, naqueles dias de emoção

passei uns anos procurando aquele som novamente, os restos de tudo depois que tudo passou
esses dias encontrei
mas não gasto os segundos de beleza
ouço de vez em quando, degustando de uns momentos de beleza secretos, alguns momentos que fogem a tudo o mais da vida, como um refúgio, um tesouro...



domingo, 19 de junho de 2011

Sentar e ler, sentar e escrever. Sentar, tirar a cabeça do pescoço, e trabalhar. Era um pouco o que faltava nesses tempos de pensamentos e solidão. Porque, senão, passava noites, dias, tardes, manhãs, só pensando.

Pensava nela, nele, neles todos. Pensava também em coisas que não eram pessoas. Pensava na minha casa, no meu carro, na Bahia e na Alemanha.

Lembrava dos tempos passados e daqueles não vividos. Tinha saudades dos tempos da ditadura, da Idade Média e das lareiras nos castelos, das missas de domingo em igrejas góticas e das reuniões com Carlos Marighella.

Então os devaneios iam para a infância, passavam por um mar de recordações confusas, dos anos 90 e de repente percebia a falta que me fazia aquela época em que não existia internet, face, twitter, celular e toda essa compulsão pela comunicação. Lembrava do filtro quebrando no meio da noite e minha mãe, com o copo vazio. Não sei porque a memória dessa noite. Aliás, as noites me são vivas neste tempo. Teve o dia em que meu pai se projetou em um canto, e um outro que quem apareceu foi um cavalheiro medieval (to falando que tenho alguma coisa com a Idade Média). Nunca esqueço do adormecer no bercinho, pensando nos meus brinquedos e, às vezes, silenciosamente com medo, sem coragem de gritar e chamar meus pais, perdida naquela escuridão tão... escura.

Se a infância era a mais distante e nostálgica, a semi-adolescencia era o que mais me doía lembrar. O cabelo armado, tipo vassoura, a vontade de chorar por qualquer coisa, a preocupação com notas, com os outros, com os risos, com os corpos, com os braços, pernas, peitos, pêlos, bocas e os segredos em profusão de todos os lados, segredinhos, fofocas, bilhetinhos, canetinhas de cheiro, roupas, festas...

E então a libertação. Desses tempos também vinham coisas boas. As vezes ruins, mas sempre chegava o sabor das inúmeras paixões, das tardes ociosas, do sol, de ficar duas esperando um ônibus passar.... e o ônibus passava e ia fazendo devagarinho um caminho que demoraria 15 minutos. Mas o ônibus demorava um tempão, a estrutura metálica balançando, parecendo que ia virar. Só comigo dentro, e mais uns poucos gatos pingados, nas curvas do bairro nobre, até chegar no largo de Pinheiros, na confusão das barraquinhas. As vezes eu descia lá e comprava tudo que podia, menos churrasquinho grego.

Um dia ele subiu no ônibus comigo. E aí parecia que o ônibus ia tão rápido, e eu chegava em casa num minuto, ia quase correndo de alegria no ultimo quarteirão. E teve um período de tempo bom e sol, alguns dias de ressaca. Muito vinhos, muita vontade, muito desejo saciado. Depois veio um tempo de chuvas, de mortes, de brigas, de adultérios pensados, de traição no coração. De ciúmes, invejas, mesquinhezas e violência.

E acabou, e virou tudo cinza. Esse tempo também me chega, mas as vezes penso que talvez ele nunca tenha acabado e que minha lembrança seja a vivência do presente.

Porque tenho tidos uns dias cinzas, que nem daqueles outros dias sozinhos, sozinhos, tão doídos e tão sozinhos que não conseguia mais distinguir o preto do branco e foi por isso que tudo ficou cinza. As cores de repente sumiram e tudo se tornou ocre, opaco, apagado.

Enfim, claro que meus pensamentos não param por aí. Eles correm pel o Afeganistão, States, pelo glamour, pela conta bancária, nomes de esmalte e cores de batom. Por idéia mirabolantes de emgrescimento, por planejamentos não realizados, por projetos de pauta, por delírios de investigação, por furos estampados nas primeiras capas dos maiores jornais do país.

Claro, nos meus melhores dias, vão para a vernissage de uma exposição em Paris, onde, é claro, sou a musa inspiradora de um fotográfo dos circuitos marginais, mas comentadíssimo e muito bem descrito pela crítica.

Depois, converso um pouco com cada coadjuvante ou protagonista da minha vida, perpasso os últimos filmes e personagens que entraram na minha cabeça. Reflito sobre minha condição social, sobre os miseráveis no Brasil e claro, na ascensão da Classe C.

Isso porque não comecei nem a falar da família, dos primos, dos Magalhães, dos iugoslavos, dos loucos, dos mortos e dos vivos. Poderia ficar falando até amanhã de todos sonhos e projetos que um dia pensei realizar, de todas as coisas impossíveis e das coisas concretas. Dos meus medos, vontades, anseios, carências...

E tudo isso porque tenho páginas pra ler, horários pra acordar, matérias pra entregar, contas a pagar, pertencer perdidos, festas marcadas, roupas por arrumar, quarto por arrumar, cozinha, sapatos, pastas...

Madrugada

Nessa noite, era jornalista e me chamava Clara. Era mais uma daquelas perseguições de vida ou morte que sempre aparecem nos meus sonhos. Interminável, e, mais do que corre-corre, assassinatos, investigações, furos, proprietários rurais e um sequestro de um bebê, havia também um esquecimento de muitos anos, e saudade de um homem por quem me apaixonei, e também que desaparecera foragido. Reencontrávamos-nos muitos anos depois, em um café no subsolo de um shopping, onde eu trabalhava como garçonete, escondida sob minha dupla personalidade. Reecontro entrecortado pelo nosso fiel perseguidor, agora travestido de um empresário multimilionário que quer dar fim os jornalistas que o descobriram em outros tempos. E, num jogo alucinante de disfarces, abraços (até beijos acalorados), eu acordo em minha cama, como sempre, e tento, insistentemente, dormir mais cinco minutos, tentando recuperar a adrenalina do delírio...

domingo, 5 de junho de 2011

Qual era entao o espelho certo?

Conversava com minha irmã na cozinha, sobre loucura.

Esta, que me perseguia desde a infância. Incompreensível sombra, persistente.

Na maconha que não fumava, no sono caótico, nos presságios realizados e na solidão sempre.

Minha irmã dizia então, ela, que deixava levar-se pelo fluxo das coisas tortas, muitas vezes enclausurando-se em guetos, em outras enfrentando o que não era permitido. Enfim, dizia que a loucura era aquilo que víamos sempre em minha tia e suas amigas, aquela figura caricatural e desatinada. Já eu e ela, éramos apenas um pouco fora da linha.

‘Nós, não seguimos o padrão’, disse. E completou: ‘Deve ser porque temos sangue de cigano’.

quinta-feira, 3 de março de 2011

noite

A rua lotada de estudantes, o final da tarde, o som das vozes gritando e a polícia ali ao lado, fazendo da cena algo típico. A manifestação prosseguia mas algo em mim me puxava para outros cantos. Os jovens andando na mesma toada, unidos em suas crenças enquanto eu caminhava só...
- Olha que gostosa. Imagina essa aí na minha cama- o cara a minha esquerda andava arritmado olhando para as bundas, pouco se importando com aqueles gritos, cartazes, como se no mundo só existisse as tais bundas. Ignorei meio cansado, levemente envergonhado. Pensava sobre o amor e a paixão, sobre o sexo de energias e sobre os corpos... a cena não vivida, aqueles flashes criados por mim iam e voltavam. Me dava arrepios.

- Po, vamos lá pra frente. A gente tem que tá na hora do quebra pau, é necessário para fortalecer a nossa conjuntura política. (foi qualquer coisa assim, pra mim foi a desculpa para perder o passo e sumir na multidão).

Começei a vaguear entre os corpos uníssonos, sem muita intenção de nada. Sentia- me suavemente só, reconfortado por aquela pontinha de tristeza e cansaço. Fui na direção do metrô. Hoje era dia de voltar cedo pra casa, ler um pouquinho e dormir como há muito tempo eu não durmo. Pensei... e nesse segundo, uma figura apareceu na minha frente, como num salto.

- Nossa, que cara é essa? Faz tempo que a gente não se ve, hein... o que há contigo?

Me sentindo atropelado, respondi qualquer coisa e olhei para o homem que se postava a minha frente. Reconheci na hora, o Paulo, fazia teatro comigo... pareceia eletrizado, tão longe daquelas pessoas quanto eu, mas no outro oposto.

Andamos um pouco como gauches, ignorando a multidão e tudo que acontecia. Fui saindo devagarinho, imperceptivelmente, de mim mesmo. Pouco a pouco, fui me abandonando, me entregando ao acaso.

- Vai voltar pra faculdade?
- Não, to indo pra casa mesmo...
- Sério? Vamo lá, não tem problema, primeira quinta-feira do ano, deve tá loco.
A festinha acontecia toda quinta-feira. Toda. E eu ia em todas. Até então. Cerveja, som, calor, meninas bonitas... mas agora me sentia descompassado disso tudo. Não, não iria hoje.
- Acho que não mesmo. To cansado e amanhã vou ter que acordar cedo, fazer várias coisas.
- Ahhh não vem com essa história. Vamo lá comigo.
- Você veio pra cá sozinho?
- Não, com uns amigos... mas eles se perderam e tals.

Nesse momento, ainda me mantinha um pouco comigo. Paulo falava rápido, misterioso. Quase como se ele realmente tivesse caído ali, naquela esquina, naquele segundo e como se meu encontro com ele fosse a deixa para ser sugado pela noite. Enquanto ele desabalava em histórias absurdas, indagações mil, fui esquecendo de tudo que tinha acontecido até então, de todos aqueles pensamentos e tristeza profunda. Todas essas coisas desapareceram, ficando apenas uma marca de quentura. Incomodava um pouquinho, mas não conseguia lembrar porquê.

Os dois sozinhos no ponto de ônibus.
- Vamo lá, tenho só que pegar uma coisa em casa lá do lado da USP, depois vamos juntos.

Estava dentro do ônibus. Ele sentado no banco da frente, quieto pela primeira vez. Chovia rios de água, começo da noite, o busão lotado. Tava um clima estranho. De vez em quando trocávamos umas palavras, mas só para atestar a tensão. Culpava ele por estar ali. Enquanto o onibus andava, não entendia direito o que me havia feito entrar.
-A gente desce no próximo.
Andamos ainda na rua, quietos, sem guarda-chuva, desacostumados com a presença um do outro. As gotas caiam e os passos apressavam.

-Bem vindo a minha república.- Umas 10 pessoas espalhadas pelo chão de madeira do apartamento, completamente jogadas. As janelas estavam todas fechadas e uma fumaça familiar tomava conta do ambiente. Todos se interromperam para nos olhar. Uma menina quase bonita num sofá. Seus olhos me puxavam...

Meu amigo ( ou meu colega provisório, qualquer coisa assim) já sentado entre aquelas pessoas, conversando com a menina. O baseado rodando, sentei também e resolvi esquecer o desconforto. Mil conversas absurdas. Me senti um comentarista de futebol, perpassando sobre temas como se desfilasse com a língua.

De vez em quando, meus olhos se viravam rápido para Paulo e ela. Numa dessas, Paulo me olhava também. Provocava, quieto, parado. Olhando sem palavras e revelando pela primeira vez o que o tinha feito me trazer aqui.

Um puxão, irrecusável. O bafo quente de duas bocas que se encostavam e se abriram por um segundo. Entrei. Sensações alternadas. Fiquei uma meia hora entre aqueles corpos, me sentia um convidado especial, sem entender nada, apenas aceitando tudo como um turista que experimenta de todas as comidas.

Dali por diante, tenho apenas algumas imagens. Eu, em um carro cheio de gente, o motorista bêbado e meio perdido, o vento batendo na cara.

- Onde você tava? O que você tava fazendo? - Como se todos soubessem meu percurso das últimas horas. Meu melhor amigo me olhava, igualmente chapado. Desconfiava e acho que nunca havíamos estado tão distantes. A música tocando alto, aos poucos fui vendo os rostos conhecidos.

Ela já havia ido embora quando eu cheguei. Todos se divertiam muito. Muito. A cerveja gelada, a noite de verão, o reencontro daquelas caras jovens e felizes. Já eu, tão fora de si. Sem entender porque estava ali, sem responder a pergunta nenhuma.

Dançava com a menina, meu amigo me olhava, sua menina olhava ele, os olhos de lágrima. Mais algumas pessoas no fim de festa, a maioria se beijava, ou dançava os últimos minutos da música. O ambiente esvaziado, tudo meio acabado.

Gabi meio pasmada, olhava seu homem beijar a boca de outra menina. Levei ela embora, em choque, de vez em quando repetia a mesma frase incompleta "Ele e ela..."

Eu sozinho, cansado daqueles lados e daquelas dores. Acalmei minha amiga, como se acalmasse também a mim mesmo. Andávamos na madrugada vazia, bêbados e chorosos, abraçados esperando o o dia vir dizer que a noite acabara.