segunda-feira, 4 de maio de 2015

Cenas brasileiras:a despedida


Lurdes, morena índia dos olhos um tiquim puxados, o cabelo liso no rabo de cavalo. Lurdes é colorida, é doce. Mas ali no castanho dos seus olhos ela guarda uma sabedoria que só uma mãe  pode ter – mas que nem todas as mães têm.
A feira livre corre solta, a gente leva ali na cidade tudo que produziu na roça para vender. Queijo minas, manteiga de garrafa e essas coisas todas de “Brasil profundo profundísimo”. O burburinho da feira, o sol meio aparecendo no céu. Ela olha no fundo dos olhos dele  (ela, a única mulher que consegue tocar seu coração).
“Meu filho, eu to longe porque a vida é assim mesmo. Nao é por falta de amor, nem de vontade de tá junto”. Ele diz um “Eu sei” baixinho. Aí eles se abraçam demorado. Ela nao chora, ele tampoco. Seus grandes olhos castanhos, os dele. 
Minha garganta apertava. Sentia a lágrima ali, em ponto de queda. Mas segurei firme para nao cair no choro e quando chegou a minha vez, quase nao consegui falar. Saiu um “obrigada” meio seco, muito mais seco que o carinhoso adeus que eu gostaria de ter dito.

E entao entramos no carro, e o carro foi deixando a cidade, entrando na estrada, atravessando os povoados, as montanhas, as cidades, até chegar de novo na odisseia babilonia urbana onde cada um seguiu um caminho separado. E Lurdes, nunca mais a vi.