Dizem em outros cantos que somos frios: eu digo que é só aparência. Ouvi alguém falar uma vez que o mano, o mano não podia ter nascido em outro lugar. Tá, não temos praia, vivemos em uma selva de pedra, o trânsito é caótico, a poluição é insuportável. Mas aqui é a cidade da camaradagem.
É um lugar de se fazer grandes amigos. Tudo é mais ou menos glamour e praticidade e se aprochegar na casa do colega se torna banal em poucas semanas.
Nem sei porque comecei a escrever isso. Talvez por causa do que me aconteceu justamente hoje.... em meio a hora do rush, atravessando a cidade. Calhei de pegar uma carona com uma amiga minha, uma dessas pessoas esclarecidas, práticas e felizes, dentro do que é possível se chamar felicidade. Até então, estava pairando em outros mundos, imersa nos meus problemas existenciais, nas minhas angústias e na minha iminente e incontrolável carência.
A conversa se enveredou por caminhos aleatórios, como acontece com os bons papos. Fato foi que, enquanto ela me contava de seu namorado e da sua vida, pequenas carências e necessidade de soluções... as coisas foram me parecendo mais suaves. O trânsito na avenida era tão mais leve quanto mais a conversa evoluía e confesso que cheguei a desejar que o farol fechasse em alguns momentos.
Aí está... talvez um café com cortinas vermelhas e intelectuais com cigarros (ah, estes foram proibidos) ou quem sabe um por de sol ma-ra-vi-lho-so na praia fosse o cenário ideal para esse momento. Mas porque um “momento” não pode acontecer entre uma esquina e outra, parado num quarteirão de uma rua qualquer, esperando uma luzinha verde acender...
Você escreve muito bem.
ResponderExcluirE também porque diz coisas que calam fundo,
mesmo que simples.
Me surpreende te ver falando assim, com propriedade, vivendo assim, com propriedade.
Como disse naquele bilhete de natal,
é estranho quando a mulher dentro de você se descola da irmãzinha que eu ainda vejo.