segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O segredo de seus olhos

Ele olhava fixamente para ela. Podia ser coincidência, um virar de olhos no último segundo antes do flash. Enquanto todos os outros se postavam inocentemente, a menina olhando alheia ao chão, e os outros dois sem qualquer pista do que estava prestes a acontecer (ou quem sabe já havia ocorrido, não sei, no passado tudo é um pouco confuso...).

Tal como no filme, os olhos diziam tudo, desvendavam o crime oculto por anos de mágoas e até superações (por que não? não seria melhor compreender sempre?).

Eu, ali e aqui, a distância dos anos e o segredo então revelado e que me fazia rever a história toda. Minha história. Sempre pensando que poderia ter sido comigo, atingida por cacos e migalhas que sobraram. Típico drama que é e deve ser esquecido. Episódio que sabe se esconder lá no fundo da alma, que causa enjôo mas não mata....

É impossível não ter pena daquela menina, desaparecida nos outros tantos anos. Ela agora adulta, tudo passado, reconstruída mas sempre frágil. Todas suas faces já conhecidas e aquele choro que pedia pelo pai ou pela mãe. A mãe distante e eu tendo que socorrê-la, dentro da minha pequenez, tentando livrá-la de sua angústia errada de criança, me sentindo então forte... de repente, mamãe chegava e era ais uma vez criança, menor e indefesa.

Tudo sinalizava para o fato. Desde o nascimento, aquela menina indicava alvoroço. Já eu, era a outra que placidamente me colocava de canto, protegida sempre pelo pai, fiel seguidora e companheira. Ele sabe? Ele já soube? Desconfiou, ao menos?

Anos de terapia para ela sozinha compreender e abandonar as mágoas. Agora, era tudo mudado, tudo compreendido e só a minha dor latente permanecia como herança desses anos de ignorância completa sobre uma aberração. Mais um pouco, e ele acaba, levando memórias de adulto consigo no caixão. E depois..?

Nenhum comentário:

Postar um comentário